mardi 4 septembre 2007

Amour....


Nas minhas palavras... escrevo-te!
Falava-me de revolução, de mim mesmo para mim próprio.
De mim para o meu corpo, de mim p’ra ti que te escrevo.
Corpo, corpo meu, cansado andaste e com os teus pés o fizeste.
De mim para ti falo... eu sou tu, mesmo que isso não queiras ser.
Corpo, corpo meu... tantas e tão poucas levastes... p’sadas foram elas.
Da cabeça aos pés, do teu corpo... pelas entranhas, na alma tocaram.
Benditas sois vós, Dona da delicadeza... a vós rezei o rezei, o meu corpo.
Por vós mereci a bondade... aos vossos pés me deitei.
Por eles amarinhei... chegadas as cochas... sobre elas chorei.
Fechadas ao alto vivi... o prazer de uma dor não sentir.
Do meu corpo soltaram-se amarras... amarras velhas.... amarras soltas.
Soltas que nem vento... ao mar foram deitadas.
Tonto, embriagado... fervo de amor... em águas brutas navego.
Fraco de amarras soltas...
Corpo, que me dizes? Como estás?
Sente... sente a liberdade aos teus pés... a vontade no vento.
Como estás? Sente... mesmo doente... sente o calor e o frio.
Como estou? Livre... sinto o vento... o mar, a bater-me na alma.
Leve, bastante leve... me sinto... sinto a passar-me na alma.
Sinto o mar a entrar... a inundar.
Sente, sente, corpo, corpo meu... flutua na água do mar.

Manuel Areia

lundi 2 juillet 2007

Longe... ô delá da encosta.


Longe... ô delá da encosta.
Sonhos parados dinstantes sanfetos...
Uta da ida, dadida dela.
Descende, verde, amarela, triplitante vagabunda, feia descusida, janela desnuda.
Pasmada, sofrida, perdida da rua.
Amada, fedida, vendida.
Parvas pernélias deslinguidas, tranquilas, abertas mendigas.
Ixa lariça, petija buraca, almaca na lona, ferida bandida, uta da ida, da vida dela.
Deslambida, fona da jona, bandida, magana da vida.
Bendita, malvada, candida sapuda, batuta nela.
Pedas padradas, mijadas dela.
Buracas na lona, na ona dela.
Pexadas, a cordas dentadas, dela.
Armandina, menina.
Na corras, masmorra.
Armandina, piquenina canina.
De cadelas paradas cães sanfetos...
Longe... ô delá da encosta.

João Velho (1907)

lundi 19 mars 2007

Esperança

Linhas tortas, direitas, enviusadas... levam-nos para outras terras.
Desencantos, não vontades, poucos desejos... vinda esperança sem guerras.
Lembranças, leituras e escritas, cantares, são as vozes levadas pelos ventos.
Sombras, memórias, vitórias, saberes, ficam-se nos tempos.

Sonhos, para além mar, para além mundo, avistados ao longe escurecem.
Pedras, ervas, sonhos que ficam, nos meandros das tocas, gritos padecem.
Buracos ermos, finas terras, animais sois homem, homem de pele e tosca ventura.
Finos caminhos raspam-nos a carne, tormentam-nos a pele que em migalhas perdura.

Sois homem, sou nada, sou tudo, posso nada, posso tudo, sou filho erguido de mães.
Forte de nada, forte de nada mais que alguma coisa, saltos em covas, muros de cães.
Verdes, azuis pálidos, vermelhos encarnados, céus de cores pardas ferem-nos os olhos.
Cospe soluços de barriga vazia, colhe frutos, apanha maduros, fazem-se molhos.

De uma terra sou, para uma terra fui. Longe sem distância ficam as memórias deitadas.
Do mar avista-se a terra, da terra avista-se o nada, o nada de portas fechadas.
A um mundo pertenço, de mãe fui parido, de terras vivi e nelas cresci.
De quintas fazem-se as sextas, de sábados domingos se fazem e foi nos entres que nasci.

Minguam os anseios por estas tantas palavras, findam-se as feias pelos ventos levadas.
Não todas, algumas poucas, poucas são as que restam para seram lavadas.
Pensamentos flutuam em berços de nada, formigam em carreiros em barcas jogadas.
Foram as febres, deixaram as marcas, sombras marcadas em almas cansadas.

João Velho (1907)

jeudi 8 mars 2007

Três entidades (seremos)






Santo, homem, criança.
Vestido, despido, esperança.
Em trilhos de pedras caminhou.
Pelos seus filhos ressuscitou.

Longe viajou, perto amou.
De dia viveu, de noite voou.
Dentro permaneceu, fora nasceu.
Ontem falou, hoje venceu.

Criança, busca, homem.
Despido, aventurança, vestido.
Em terras caminhou e falou.
Montes subio e parou.

Homem, dúvida, sonhos.
Perda, desencontro, reencontro.
Fusão, união, ejaculação.
Azul, fundo, tesão, visão.

Divino tocamos e não nos lembramos.
Amor sentimos e de tudo nos despimos.
Cuspos, mucos, sucos.
De corpos desnudos provamos, gostamos.

Louca corrida, desenfreada, vivendo Amor.
Pelas terras dos sentimentos sentimos calor.
Corpos despidos aclamam aos céus.
Corpos pingando ensopando os véus.

Chamemos Amor esta louca corrida.
De Alma desnuda, vivida.
Entremos nela de pés descalços.
Tentemos a volta sem precalços.

Acto, sentimento, entendimento
Três entidades, três vontades.

Fernando de Bulhões 1207

samedi 20 janvier 2007

Que tempos foram os de outrora?


Que tempos foram os de outrora?
Longos, será certo! Como ontem os de agora.
Hoje simples. De desnudos incertos.
Amanhã vagabundos. De corpos despertos.

Para onde foram os de outrora?

Senhores sem cartola, de senhora, vestidos.
Vermelhos garridos, ao alto tingidos.
Passadas largas em pretos sapatos.
Curtas pernas em veludo de fatos.

Quem foram os de outrora?

Ruas vendidas, sujos, despidos.
Esquinas putas de pernas caducas.
Homens perdidos de secura varridos

Saltos altos e vermelhos vestidos.
Curtos tempos em labutas vencidos.
Hoje simples, amanhã vagabundos.
Ontem despidos.

De fatos pretos correndo a penumbra.
De saltos altos, vermelhos dourados.
De sapatos rasos, vermelhos folhados.
Pobres despedidas de mémorias tingidas.

Tempos de oiro foram os de outrora!

De homens de cartola! Pretos fatos!
De mulheres vestidas! Cores garridas!
Altos saltos, sapatos, fatos e cartola.
Vermelhos garridos, vencidos despidos.

Foram estes os tempos de ontem.
Os tempos de hoje e de outrora!
Nas ruas da amargura.
Varridos de secura, lambendo a vazadura.

João Velho (1907)