lundi 19 mars 2007

Esperança

Linhas tortas, direitas, enviusadas... levam-nos para outras terras.
Desencantos, não vontades, poucos desejos... vinda esperança sem guerras.
Lembranças, leituras e escritas, cantares, são as vozes levadas pelos ventos.
Sombras, memórias, vitórias, saberes, ficam-se nos tempos.

Sonhos, para além mar, para além mundo, avistados ao longe escurecem.
Pedras, ervas, sonhos que ficam, nos meandros das tocas, gritos padecem.
Buracos ermos, finas terras, animais sois homem, homem de pele e tosca ventura.
Finos caminhos raspam-nos a carne, tormentam-nos a pele que em migalhas perdura.

Sois homem, sou nada, sou tudo, posso nada, posso tudo, sou filho erguido de mães.
Forte de nada, forte de nada mais que alguma coisa, saltos em covas, muros de cães.
Verdes, azuis pálidos, vermelhos encarnados, céus de cores pardas ferem-nos os olhos.
Cospe soluços de barriga vazia, colhe frutos, apanha maduros, fazem-se molhos.

De uma terra sou, para uma terra fui. Longe sem distância ficam as memórias deitadas.
Do mar avista-se a terra, da terra avista-se o nada, o nada de portas fechadas.
A um mundo pertenço, de mãe fui parido, de terras vivi e nelas cresci.
De quintas fazem-se as sextas, de sábados domingos se fazem e foi nos entres que nasci.

Minguam os anseios por estas tantas palavras, findam-se as feias pelos ventos levadas.
Não todas, algumas poucas, poucas são as que restam para seram lavadas.
Pensamentos flutuam em berços de nada, formigam em carreiros em barcas jogadas.
Foram as febres, deixaram as marcas, sombras marcadas em almas cansadas.

João Velho (1907)

jeudi 8 mars 2007

Três entidades (seremos)






Santo, homem, criança.
Vestido, despido, esperança.
Em trilhos de pedras caminhou.
Pelos seus filhos ressuscitou.

Longe viajou, perto amou.
De dia viveu, de noite voou.
Dentro permaneceu, fora nasceu.
Ontem falou, hoje venceu.

Criança, busca, homem.
Despido, aventurança, vestido.
Em terras caminhou e falou.
Montes subio e parou.

Homem, dúvida, sonhos.
Perda, desencontro, reencontro.
Fusão, união, ejaculação.
Azul, fundo, tesão, visão.

Divino tocamos e não nos lembramos.
Amor sentimos e de tudo nos despimos.
Cuspos, mucos, sucos.
De corpos desnudos provamos, gostamos.

Louca corrida, desenfreada, vivendo Amor.
Pelas terras dos sentimentos sentimos calor.
Corpos despidos aclamam aos céus.
Corpos pingando ensopando os véus.

Chamemos Amor esta louca corrida.
De Alma desnuda, vivida.
Entremos nela de pés descalços.
Tentemos a volta sem precalços.

Acto, sentimento, entendimento
Três entidades, três vontades.

Fernando de Bulhões 1207